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Sobre olhar além e des-existir

Atualizado: 17 de mar. de 2021

Desde quando comecei a visitar os fogões, os terreiros e os altares do interior do Brasil, uma chave mestra de realidade foi se abrindo e, gradualmente, fui conseguindo ler a minha realidade sem a rapidez com que estamos acostumados. Esse ato passou a ser um exercício difícil e desafiador para mim, mas tornou-se urgente.



Em cada chão batido que estive até agora, confrontei-me diretamente com um investimento absoluto em todos os meus pensamentos

Como se eles fossem a redenção e a causa de tudo, por mais estranhos e nocivos que aparentassem. Fui, gradualmente, observando minha ingenuidade de viver pela fantasia, tomado e preenchido pelo planejamento, controles e coisas que não existem. Na verdade, venho sentindo que este fato é a cisão do mundo atual, a hipnose fascinante pelo mental-virtual em nós, a ponto de não perceber como que o ato de pensar cansa, e como a realização alivia e cura.


Definitivamente esse cacoete em acreditar demais nos pensamentos é uma falácia social normalizada e aprendida desde a primeira infância até as pós-graduações:

a ilusão básica de que pensar é controlar, controlar é existir, existir é cansar, até desistir ou des-existir.

Se eu desisto estou só, apenas na mente, eu me termino. Se eu des-existo, estou no corpo do mundo, eu me resisto.

Ou eu me canso, desfaço-me em pensamentos, perco-me no vazio e faleço em mim mesmo, ou, ao contrário, escuto minha busca inevitável pela nova face do vazio deste momento e retorço-me até virar ao avesso. Ou faço um voo para uma nostalgia esquisita ou vejo minha luz fazer curva para todos os cantos do mundo, pela milésima vez, e deixo nascer algo que ainda não existia até agora, algo prático, em direção ao mundo.

Hoje paro e olho para tudo: eu des-existi mais uma vez e agora estou aqui, novo de novo, no silêncio, recém-nascido no mundo, sensível, vencível, inacabado até a próxima estação do avesso.



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